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Aposta em inovação leva Marangoni a novo negócio

Tradicional fabricante de sinalização rodoviária e equipamento elétrico entrou em controle de vetores, área dominada pela indústria química

Por Carlos Prieto — De São Paulo
10/10/2023

 

Na década de 1950, a Marangoni Maretti surpreendeu, quem já conhecia a recém-criada fabricante de transformadores elétricos, ao começar a produzir secadores de cabelo. Com cerca de 10 anos de criação pelo imigrante italiano José Marangoni em Mogi Mirim (SP), a empresa mostrava que estava aberta à inovação, mesmo causando alguma estranheza num primeiro momento.

A história é contada por Ricardo Marangoni Brandão Bueno, atual presidente da companhia e neto do fundador, quase 70 anos depois, para ajudar a explicar os motivos da companhia investir em nova área de negócios: no controle de vetores ou, mais popular, no combate aos mosquitos, no caso os pernilongos.

A empresa fechou um acordo com uma startup ucraniana para produzir e vender no Brasil o Mosqitter, um equipamento que atrai e mata os pernilongos, sem uso de inseticida e sem gerar resíduos, criando uma área livre da atuação do inseto. Esse é um setor dominado pela indústria química.

“Os mosquitos são os maiores predadores do homem. Matam em média 500 mil pessoas por ano entre os vários tipos de doenças, como malária, dengue ou zika virus”, afirma Bueno. “95% deles ficam numa área muito restrita de algumas dezenas de metros quadrados. Nascem e morrem ali. A ideia é criar áreas livres desses insetos.”

O novo negócio ainda não deve trazer resultados financeiros significativos em 2023. A estimativa da companhia é fechar o ano com receita bruta de R$ 270 milhões, sendo 60% do segmento de sinalização rodoviária e 40% do negócio de energia. O grupo tem ainda uma joint venture meio a meio com a alemã Meiser no segmento de pisos e grades metálicas que deve faturar R$ 70 milhões até dezembro.

Mas Bueno está confiante com a nova aposta. Ele garante que a empresa não tem medo de investir em inovação e sua história de quase 80 anos tem vários casos de erros e acertos. “O maior medo é de não arriscar. No balanço diria que acertamos metade e erramos outra metade”, afirma.

A empresa criou um ambiente de startup dentro da fábrica de Mogi Mirim para incentivar o desenvolvimento de novas ideias, fora da burocracia diária de uma companhia do porte da Marangoni. “Se eles precisarem de um capacitor compram diretamente, com a agilidade de uma emprega de garagem, sem ter de acessar o sistema de compra interno que demora três dias para autorizar”, afirma Bueno.

O novo equipamento foi usado, como teste, em uma pousada instalada no Pantanal, em Mato Grosso do Sul, e em clubes e restaurantes com áreas verdes na capital paulista. Os testes foram acompanhados por pesquisadores da Universidade de Santa Catarina que realizam pesquisas no controle de vetores. O mosquito é atraído por temperatura, odor e emissão de CO2 que reproduz o padrão humano e morre dentro da máquina. “A emissão de CO2 do equipamento é menor do que se fosse uma pessoa”, garante Pedro Moreira, responsável pelo projeto na empresa.

Isso permite rastrear quais tipos de mosquitos habitam em cada região e coletar informações para, em parcerias com poder público, definir os planos de combate aos transmissores de doenças em lugares com maior incidência.

A produção industrial começou em setembro e, segundo a companhia, já tem uma carteira de pedidos de 400 unidades, todos privados. O cliente alvo neste momento são clubes, hotéis, restaurantes, hospitais e condomínios de alto padrão. A estimativa inicial era produzir entre 400 e 500 unidades no primeiro ano, mas essa meta já deve ser revista.

Bueno conta que a empresa conclui em 2023 o pagamento do Refis (programa de regularização fiscal) que há 18 anos tem reduzido a capacidade de investimento. “Somos parte do menos de 0,5% que conseguiu concluir o programa”, diz. Com mais recursos livres, a empresa vai modernizar as instalações em Mogi Mirim, investir em inovação e remunerar os acionistas.

Hoje a Marangoni é uma empresa limitada com balanços auditados, conselho com cinco cadeiras e apenas três membros da família entre os 300 funcionários. “A ideia é que a quarta geração não tenha nenhum representante no quadro de funcionários”, diz o executivo. Ele descarta, no curto prazo, a abertura de capital.

 

FONTE: Valor Econômico GLOBO